Os fãs dos quadrinhos do editor italiano Sergio Bonelli ganham revista TexBR. O quadrinhista cearense Fred Macêdo participa da primeira edição com uma história que mistura bang-bang e terror
A participação do consumidor, em interação com as produções da mídia mainstream, é apontada como uma das marcas distintivas deste tempo em que a internet parece o centro de toda cultura pop. O discurso é impreciso: a história da participação criativa dos fãs de produções e artistas da cultura pop é longa. Nos anos 20, já existiam publicações independentes e artesanais de ficção-científica, produzidas por admiradores da literatura pulp; nos quadrinhos, é famoso o caso de Joe Shuster e Jerry Siegel, criadores do Superman, que conceberam o personagem quando ainda produziam fanzines artesanais.
A internet facilitou a vida desses admiradores que não se contentam em apenas receber os produtos de que tanto gostam. No entanto, o velho formato impresso é uma tradição que não se perdeu no meio dos quadrinhos. Exemplo disso é a revista TexBR, publicada pelo portal TexBR, editada pelo texmaníaco Gervásio Santana de Freitas, no Rio Grande do Sul (onde mantém uma gibiteria homônima).
A revista, especializada em quadrinhos Bonelli (produções italianas das quais o caubói Tex é o exemplar mais famoso) e afins (uma gama vasta gêneros: faroeste, terror, ficção-científica, histórias policiais). Além de matérias e notícias sobre este segmento dos quadrinhos, a revista traz três HQs originais.
A revista será lançada em Fortaleza às 16 horas de hoje, na Gibiteca de Fortaleza. O lançamento é promovido pelo quadrinhista cearense Fred Macêdo (na foto, ao lado de seu parceiro Wilson Vieira), um dos colaboradores da primeira edição. "É muito gratificante quando você gosta muito de uma coisa e tem a oportunidade de fazer uma coisa que, de alguma forma, ajuda a construir aquilo", comenta Fred Macêdo. O artista desenhou, para a primeira edição da revista, "O Ceifeiro", história de faroeste com elementos de terror, como roteiro do veterano Wilson Vieira (ele mesmo um profissional que tem no currículo passagens pelo exigente mercado italiano).
Estrada tortuosa
Para Fred Macêdo, publicar em TexBR é mais do que encontrar espaço para sua produção autoral. A participação é significativa por ser ele também um admirador das histórias do ranger Tex Willer, criação da dupla Gian Luigi Bonelli e Aurelio Gallepini; e do universo do faroeste como um todo.
A paixão por Tex é antiga e não permitiu que o primeiro encontro de Fred Macêdo com o caubói lhe sumisse da memória. Foi em 1982. "Sempre fui apaixonado por faroeste. Meus pais tinham ido ao supermercado e me trouxeram a primeira edição do Tex que saiu pela editora Vecchi, o número dela era 140. O nome da história era ´Tucson!´, desenhada pelo Guglielmo Leterri, que é até um desenhista bastante criticado, por ter o trabalho meio rígido, por gostar de repetir uns quadros", reconstitui Macêdo. O quadrinhista lembra do forte impacto que teve ao ver a capa da edição, em que Tex Willer é visto numa rua deserta, de dentro de um bar com as janelas quebradas.
"A partir dali, comecei a comprar periodicamente as revistas do Tex", relembra. A coleção aumentou, com ela a paixão pelas histórias no ambiente inóspito e violento do Velho Oeste, e pelas histórias em quadrinhos, que Fred Macêdo já rabiscava. "Deixei de colecionar mais ou menos em 1990. Eu era louco para ser desenhista de quadrinhos, mas não via perspectiva nessa área. Aí fui fazer engenharia, depois comecei a trabalhar com seguros, e só desenhava ocasionalmente, sem fazer estudos, essas coisas", explica.
Macêdo passou cerca de 15 anos afastado da produção de quadrinhos. "Não sabia armazenar direito o material, como hoje, em que coloco cada revista num saquinho, num canto arejado. Daquela coleção muita coisa mofou, se estragou, e perdi cerca de 80% dela. Mas a gente aprende com isto", lamenta.
Fred Macêdo mergulhou de vez nos quadrinhos há 5 anos, quando entrou para a Oficina de Quadrinhos da UFC, projeto de extensão da universidade que oferece cursos gratuitos para quadrinhistas. De lá não saiu e já no segundo semestre de 2004, passou a integrar a equipe de monitores. O reencontro foi poderoso e intensificou a paixão do artista pela arte sequencial. Atualmente, Macêdo não trabalha mais com seguros, para se dedicar exclusivamente às HQs, seja desenhando ou ministrando curso particulares.
Nesse meio tempo, Fred Macêdo coleciona boas marcas, tendo publicado em revistas como a Quadrix, o célebre zine Manicomics, além de títulos impressos e sites na Argentina, em Portugal e na Itália.
Serviço: TexBR - nº1(R$7, 54 páginas, editada pelo Portal TexBR)
* Este texto é uma adaptação da matéria "Na caravana de Tex", publicada em 14/11/2009, no jornal Diário do Nordeste.
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